Se lidar com a morte é sempre uma tarefa muito dolorosa e difícil para nós, adultos, que entendemos o ciclo da vida, imagina para as crianças? A primeira experiência de luto infantil a gente nunca esquece. “Aquela pessoa não existe mais?” “Para onde ela vai?” “Tem como voltar?” “Por que não?” “Como que vira estrelinha?” “Nunca mais vamos nos ver?” “Por que você está chorando”?….. São muitas as dúvidas das crianças acerca da morte. Nem sempre temos respostas, ou mesmo condições emocionais, de respondê-las. Então como acolher a dor de alguém tão pequeno, quando nós, adultos, estamos com o coração partido? O assunto é duro, mas precisamos falar sobre ele. Aliás falar sobre a morte e o luto é uma das formas de acalmar a dor de quem fica.
O que é o luto?
O luto é a reação emocional que se tem quando ocorre uma perda. Essa reação é diferente de pessoa para pessoa e pode reunir os mais diversos sentimentos: raiva, desespero, melancolia, medo, angústia, tristeza, apatia etc.
Assim, o luto é também o processo de lidar com essas emoções que a perda desperta. Tudo isso demanda tempo, e ele nem sempre é linear. Ou seja, pode ter altos e baixos, recaídas e mudar conforme o contexto. A principal forma de luto é diante da morte de alguém querido, mas ele também pode ser vivenciado em outras situações de perdas, como separações ou mudanças, por exemplo.
O que é o luto infantil?
Além de ser a reação à perda ou à morte, o luto infantil é a reação à própria percepção da finitude da vida. Ou seja: quando morre uma pessoa próxima, ou mesmo um animal de estimação, a criança percebe que a morte é real, e que outros entes queridos também se vão um dia. Aliás, como os animais domésticos vivem menos que humanos, é comum que a perda do cachorro ou do gato da família seja o primeiro contato da criança com o luto. Por isso, não deve ser menosprezado ou visto como menos importante.
O luto infantil é também o momento em que a criança presencia a fragilidade dos adultos à sua volta. Ela percebe que suas referências também sofrem e choram. É muita informação para lidar!
Da mesma forma como ocorre com os adultos, o luto infantil envolve sentimentos múltiplos e pode levar tempos diferentes para ser assimilado. Honestidade, escuta, acolhimento, são as melhores ferramentas nesse processo.
Como a criança entende a morte?
A compreensão do que é a morte caminha junto com o desenvolvimento cognitivo da criança. Dessa forma, a percepção do que está acontecendo tende a ser diferente conforme a idade.
Mais do que a idade, as experiências que a criança tem com mortes podem influenciar o entendimento dela sobre o assunto que também pode variar conforme a frequência com que o tema é abordado no seu entorno.
Por isso, a Sociedade Brasileira de Pediatria alerta: para saber como a criança realmente está percebendo uma situação de luto, é fundamental ouvir o que ela pensa sobre o tema.
Como falar de morte para uma criança?
A compreensão do ciclo e da finitude da vida podem ser transmitidas de várias formas, mesmo antes de alguém próximo à criança falecer.
Uma das formas é mostrar fotos antigas da família, relembrar histórias de pessoas que não estão mais entre nós, mas que deixaram boas memórias. Se a criança manifestar curiosidade, vale explicar por que a pessoa morreu e como você se sentiu, como fez para superar a perda. O cinema e a literatura infantil também ajudam nessas conversas difíceis. Animações como Up e Rei Leão tratam o tema de forma sensível e adequada às crianças. Outros filmes, como Viva a vida e Soul, também da Disney, permitem a formulação de hipóteses sobre legado e vida após a morte.
Como contar para a criança que uma pessoa querida morreu?
Quando alguém próximo morre, aquilo que até então era apenas uma possibilidade distante, ou vista em livros e filmes, se torna real.
Nesse caso, não tem fórmula fácil: é uma notícia difícil de dar. Tampouco existe uma verdade absoluta sobre a morte – diferentes culturas e religiões apresentam suas versões e explicações. O que sabemos e precisamos explicar é que aquela pessoa não voltará a viver, pois seu corpo deixou de funcionar.
Seja honesto e aberto com as crianças sobre seus sentimentos, pois elas percebem quando não estamos bem. Fingir ou esconder sentimentos apenas os transforma em tabu.
Algumas metáforas como “virar estrelinha” e “ir morar no céu” podem ajudar na construção de uma narrativa afetiva com a criança.
Porém, é preciso cuidado com expressões como “foi viajar” ou “está dormindo para sempre”. Elas podem provocar confusões de conceitos, deixando a criança com medo de dormir ou de viajar, por exemplo.
É indicado levar a criança no funeral?
Essa é uma decisão que cabe à família, de acordo com seus próprios valores e rituais. Cerimônias de funeral ajudam a entender melhor o que é a morte e como ela é vista no seu meio.
Ao decidir levar a criança ao funeral, é importante que haja pelo mesmo um adulto de confiança em condições emocionais de acolhê-la durante o ritual.
Ela pode ter dúvidas sobre o corpo da pessoa velada ou ficar assustada diante da dor do sofrimento dos pais. Nesse caso, é importante ter calma para explicar o que está acontecendo.
Se a família achar melhor não levar a criança ao funeral, é possível deixá-la com alguém de confiança, de sua rede de apoio. Num momento em que os pais estiverem mais calmos, é importante conversar com a criança sobre o assunto, contar como foi. Uma possibilidade é leva-la ao cemitério onde o familiar foi enterrado.
Quais são as fases do luto infantil?
Negação, raiva, barganha, depressão e aceitação: a psiquiatra Elisabeth Kübler-Ross descreveu essas cincos fases enquanto estudava como os adultos lidam com a morte. Nem sempre elas ocorrem de forma linear- os sentimentos podem ir e voltar muitas vezes.
No luto infantil, a definição de fases é ainda menos nítida. Cada criança pode reagir de forma diferente conforme o entendimento que tem sobre a morte. Quando muito pequenas, é comum que elas tenham dificuldades de pensar na morte como algo definitivo. Elas podem perguntar com naturalidade sobre quando a pessoa volta, por exemplo.
Dessa forma, é frequente que elas não sintam o mesmo tipo de baque que os adultos e sigam normalmente com suas rotinas. Isso não significa que a criança é insensível ou que não amava a pessoa que se foi. Na maioria das vezes, ela só precisa de um tempo maior para processar a informação da morte.
Luto infantil: sintomas
O luto não é uma doença, mas uma reação natural à perda. Junto com a tristeza, podem ocorrer sintomas físicos, como dor no peito e alterações no sono e no apetite. Quando o sofrimento se prolonga por muito tempo, é importante contar com o apoio psicológico para superar e retomar a vida da criança.
Alguns sinais para buscar ajuda:
Luto infantil e psicologia: como a terapia pode ajudar
O acompanhamento psicológico profissional ajuda a criança a entender os próprios sentimentos. Da mesma forma, orienta a família sobre a melhor forma de ajudar a criança. É comum que algumas crianças se fechem e não queiram falar sobre o assunto com os familiares. O comportamento mais quieto e isolado, muitas vezes, vem do receio de trazer mais preocupações e sofrimento aos adultos. Com um profissional, a criança tende a se abrir com mais tranquilidade.
Luto infantil na escola: como o ambiente pode ajudar nesse processo?
Retornar à rotina escolar também é importante na superação do luto infantil, mas o ambiente escolar também precisa ser acolhedor. Por isso, é importante conversar com professores e coordenadores sobre o assunto, inclusive para preparar os demais alunos.
Talvez aulas de reforço sejam necessárias, dependendo do tempo que a criança ficou afastada. A capacidade de atenção e concentração podem ser afetadas, então a criança pode requerer um acompanhamento mais próximo.
Algumas crianças em luto podem sentir vontade de expressar essa experiência e sentimento falando, outras podem ficar mais retraídas. Em ambos os casos, é fundamental que sejam respeitadas e acolhidas.
Como lidar com luto infantil?
Mesmo com acompanhamento psicológico profissional, o apoio e acolhimento da família são fundamentais para lidar com o luto infantil. Nesse sentido, as posturas a seguir são essenciais:
Não existe receita pronta para passar por esse momento, mas sabemos que levar acolhimento e amor, faz toda diferença.
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